O Ciclismo de Montanha na década de 90 em Floripa

Texto por Henrique Coutinho

Minha história no MTB começou um pouco antes em Petrópolis RJ, aproximadamente no ano 1987. Eu estava formado como engenheiro agrônomo, sem destino e emprego, graças ao ex-presidente Sarney, que conseguiu alcançar patamares de inflação de 13% a 20% ao mês. E só pra lembrar conseguimos chegar ainda aos 80% a.m. em 1990.

Sem destino e sem emprego, já apaixonado pelo MTB, apostei no estudo e fui para Florianópolis em 1990, que já naquela época era a Ilha da Magia. Minha MTB em 1990, já era personalizada, e na ilha existiam conhecidamente poucas bikes MTB aro 26. Praticamente eram quatro. A minha, e a dos colegas: Fernando Montenegro, Jean Sidney Post (Caloi preta) e a do Gilberto (Caloi Aluminum tricolor). Na época o nosso rolê épico era, sair da Lagoa da Conceição e subir toda Pedra Branca e voltar, o que equivale a uns 95 km aproximados.

Com o dólar sempre alto, e as importações impossíveis, as opções de bikes eram muito poucas. Apesar disso, a specialized stump jumper já existia. Algumas raridades como as GT, Trek e Schiwm até apareciam, e depois vieram as KHS. Em 91, Della Giustina fez a primeira prova de MTB em Santa Catarina, em um domingo na UFSC.

Evidentemente era quase um passeio rápido nos gramados da UFSC sem muitos obstáculos ou dificuldades, mas foi muito importante este marco, pois ficamos conhecendo e trocando telefones fixos de seis dígitos, entre outros amantes do esporte, entre eles. Humberto Hubert, Luís Peixoto e outros.

Douglas, Ronaldo e Henrique Coutinho (em pé), Lagoa do Peri

Nesse mesmo ano ainda, com os contatos telefônicos ainda ou não nosso grupo aumentou bastante, Gellea, Pezão Bikes, Rafael Waltrick (Bonitinho), Rock, Douglas Serra (Life Cycle), Ronaldo, Mario Bernardes, Tonhão de  Ratones e outros… Os roles eram sempre épicos com muitos imprevistos e oficinas durante o passeio “corrida”. Capacetes, pneus e freios cantilevers rudimentares estavam presentes, e ainda bar-ends

Nesse contexto, algumas coisas não mudaram muito. A subida da Antena, conquista por nós, naquela época sempre foi dura, e o Travessão também. Em 92 iniciaram algumas pequenas provas locais que organizamos eu e Fernando Montenegro, Peixoto. Entre elas o DownHill Pirata, Eliminator do Favelão na praia mole, e uma TransFloripa (não era esse nome) que iniciava no morro da Lagoa, descia para costa da lagoa, passava para Ratones, depois na Praia de Moçambique e terminava em Ingleses.

Cotovelo na subida da Antena 1993

Embora o presidente Collor (o impeachmado) tenha estancado o fluxo de diversas atividades esportivas, com a retenção monetária nos bancos por um ano. O MTB sobreviveu bravamente e não morreu. 

 A partir de 92, a Confederação de Ciclismo Catarinense, abraçou por vários anos durante a década, que no início tinha um calendário de aproximadamente 8 provas e com o tempo diminuiu a quantidade de etapas.

Algumas diferenças são fundamentais em relação aos dias de hoje passado 30 anos, as principais podem ser destacadas. A primeira, evidentemente a qualidade e a facilidade de aquisição das mtb e seus equipamentos. Quando menciono equipamento, podemos entender como bermudas, luvas e peças de reposição. A segunda, as redes sociais que empurram o esporte com a possibilidade de organização, voluntariado e eventos com muita facilidade. A terceira, o tipo de trilhas e/ou pistas que o esporte hoje é praticado.

Atualmente existem vários níveis de dificuldade e obstáculos, as trilhas são mais abertas e trilhas muito fluidas. Antigamente após uma trilha os braços e pernas saiam arranhões como se tivesse brigado com um gato.

Para relembrar 1993 em Floripa

Alberto moendo na largada do xc na fazenda 66, com big bar-ends. Lá atrás eu, Tonhão, Rock e Didi.


Gellea e Saulo Ito, na Colônia de Santana (1997) em um DownHill  Eliminator caseiro
Fotos Alberto Brackert
1991