Nicholas Hunt – 15 de maio de 2017
De Nevada a Minnesota, cidades mineradoras veem uma revitalização econômica em função das trilhas que atraem ciclistas de montanha de todos os lugares.
Quase 50 anos atrás, as empresas mineradoras de ferro, espinha dorsal da economia de Crosby, Minnesota, encerraram as atividades e deixaram para trás uma paisagem marcada por poços abertos e montes de terra vermelha. A região logo se tornou um depósito de lixo ilegal que se parecia mais com Marte do que com a Terra. A cidade se tornou o tipo de lugar onde os visitantes trancavam a porta do carro enquanto passavam.
Em 1993 as minas e terras ao redor foram designadas áreas de recreação estadual para preservação do patrimônio minerador e o estado limpou o local da melhor maneira possível retirando caminhões cheios de lixo. Mas como não havia muita visitação, a área ficou praticamente esquecida e intocada. Nas duas décadas seguintes, a terra se recuperou, mas Crosby não.
E então vieram os ciclistas de montanha.
Membros de um clube de ciclismo de montanha de Minneapolis, a 200 quilômetros de distância, viram a paisagem de terra vermelha e se apaixonaram. Montes de 60 metros de altura escavados durante as operações de mineração criaram um local propício para a construção de trilhas e com a ajuda da Associação Internacional de Ciclismo de Montanha (IMBA, na sigla em inglês) esses ciclistas pressionaram com sucesso o estado para criar seu primeiro parque estadual voltado para o ciclismo de montanha. Depois que voluntários locais construíram uma trilha de demonstração, o Departamento de Recursos Naturais contratou uma equipe profissional para construir 40 quilômetros de singletracks fluidos e técnicos, criando um dos melhores sistemas de trilhas do Meio-Oeste.
“Chamamos essa terra maravilhosa para o ciclismo de montanha de Cuyuna Gold”, diz Aaron Hautala, presidente voluntário da Cuyuna Lakes Mountain Biking Crew, o clube local da IMBA responsável pela manutenção das trilhas.
Praticamente assim que as trilhas foram abertas em 2011, Crosby foi designado como um centro de pilotagem nível bronze do IMBA, um título que homenageia instalações de ciclismo de montanha de grande escala com trilhas para todos os níveis de habilidade e de ciclista. De repente, turistas começaram a chegar na cidade com bicicletas penduradas na traseira de seus carros — diz Hautala. Na loja de bicicletas local, o mapa das cidades natais dos visitantes estava repleto de alfinetes em quase todos os estados do país.
Também existem dados documentando o impacto econômico das trilhas. De acordo com uma pesquisa realizada pelo clube de Hautala e pelo IMBA, por ano, 25.000 ciclistas percorrem as trilhas, adicionando cerca de US$ 2 milhões à economia local. Essa mesma pesquisa prevê que este número aumentará para US$ 21 milhões assim que as trilhas forem expandidas para o total planejado de 120 quilômetros. “Virou uma coisa que as pessoas dizem, ‘Uau, vamos voltar’” — diz Hautala.
Cabanas à beira do lago projetadas para replicar alojamentos para mineradores do século 19.
(Foto: Cortesia de True North Basecamp)
Quinze novos negócios abriram em Crosby desde 2011, e a única coisa que mudou foi a trilha que agora serpenteia pela floresta fora da cidade — diz Hautala. Há uma nova cervejaria, um estúdio de ioga, duas pizzarias com forno a lenha e o True North Base Camp, que hospeda ciclistas em seis cabanas à beira do lago. E o mais importante, muitos dos negócios foram iniciados por jovens que se mudaram para a região ou optaram por ficar porque veem potencial nas trilhas.
E Crosby não está sozinha. Em todo o condado, cidades com uma única fonte de receita estão construindo trilhas de onde antes extraíam madeira ou minério para atrair uma nova fonte de renda — os ciclistas de montanha.
“Somos um recurso inexplorado” — diz Andy Williamson, que gerencia os Centros de Pilotagem e as Epic Trails do IMBA como o diretor de desenvolvimento de programas da organização. “A ideia de ciclistas de montanha imundos indo a lugares e dormindo em seus carros não é mais relevante. Queremos realmente vivenciar os lugares que visitamos, e as comunidades que entendem isso realmente, são aquelas que podem tirar o máximo de proveito de nós.”
De acordo com uma pesquisa do Singletracks.com com mais de 1.400 ciclistas em todo o país, 62% dos ciclistas de montanha viajam para pedalar, fazem uma média de duas viagens por ano e gastam cerca de US$ 382 em cada viagem. Portanto, a um preço relativamente barato de US$ 50.000 por milha de trilha de ciclismo de montanha profissional de alto nível, o retorno sobre o investimento pode ser “realmente incrível” — diz Williamson.
Oakridge, Oregon, tornou-se a garota-propaganda do movimento. Outrora uma próspera cidade madeireira no coração da floresta, após o fechamento da fábrica local na década de 1990, Oakridge decaiu. Em 2004, a cidade recebeu subsídio para desenvolver um projeto de manejo e começou a trabalhar para se autodenominar um destino para o mountain bike. Hoje possui mais de 600 quilômetros de trilhas nas montanhas que cercam a cidade. De acordo com um estudo de 2014, o turismo de ciclismo de montanha gera até US$ 5 milhões em gastos diretos todo ano.
“Toda a comunidade está se concentrando em trilhas, ciclismo de montanha e recreação” — diz Williamson. “Todos, do prefeito até a pequena loja de ukulele da cidade, estão todos à mesa dizendo: ‘Este turismo é bom para nós’”.
Em Michigan, Copper Harbor, uma antiga cidade portuária e mineradora na Península Superior com uma população de apenas 108 habitantes, construiu mais de 56 quilômetros de singletracks e agora recebe mais de 20.000 visitantes por ano em suas trilhas. Weaverville, Califórnia, uma antiga cidade da corrida do ouro e então centro madeireiro reinventou-se em meados da década de 1990 como um destino de ciclismo de montanha especializado em trilhas de longa distância.
Atualmente, ela recebe várias corridas anuais de ciclismo de montanha e, em 2015, foi o local da primeira corrida nos EUA do Campeonato Mundial Solo 24-Horas. No sul, estima-se que os 35 quilômetros de trilhas de Anniston, Alabama, uma antiga cidade do aço no final dos Apalaches, poderiam gerar de US$ 2 a US $ 6 milhões em impacto econômico anualmente. E ao norte da Colúmbia Britânica, outra antiga cidade madeireira chamada Burns Lake garantiu US$ 1,5 milhão em subsídios para construir e manter trilhas de ciclismo de montanha em um esforço para atrair visitantes, e está funcionando.
“Realmente parece ser uma questão de construir para que eles venham” — diz Martin Littlejohn, diretor executivo da Western Mountain Bike Tourism Association da Colúmbia Britânica. “[Mas] não é apenas uma atração turística, faz parte do contexto local.”
Littlejohn diz que nove outras cidades da região, cujas economias são baseadas basicamente em matéria-prima, também se voltaram para o ciclismo de montanha, não apenas para diversificar e melhorar suas economias, mas também atrair e reter jovens trabalhadores qualificados, melhorando a qualidade de vida. Seus esforços foram recompensados este ano com a edição norte da popular BC Bike Race, aumentando significativamente o perfil da área como um destino de recreação ao ar livre.
E embora ainda não haja dados econômicos sobre o efeito que o turismo de ciclismo de montanha teve ali, Littlejohn cita um relatório divulgado pela MBTA que mostra que ciclistas de montanha em Squamish, ao sul, gastaram US$ 10 milhões e geraram US$ 15,6 milhões em receita indireta na província em 2016.
Até mesmo grandes cidades como Chicago estão comprando a ideia. Localizado no lado sul da cidade, em um antigo rejeito de metais pesados e outros subprodutos de fundições de aço próximas, o parque Big Marsh de 300 acres combina restauração ecológica com singletracks, trilhas de gravidade e de fluidez. “Custariam mais de US$ 200 milhões para restaurar [o local]” — diz Jay Readey, diretor interino da Friends of Big Marsh, uma coalizão entre empresas e organizações que apoiam o desenvolvimento do parque. “Isso simplesmente não era viável, então cobrir e construir um bike park em cima foi fantástico.”
Mais de 1.000 pessoas compareceram ao dia da inauguração em novembro passado, o que Readey espera ser um sinal do que está por vir.
O primeiro empreendimento de Chicago em eco-recreação, o parque Big Marsh de 300 acres, combina restauração ecológica com singletracks, trilhas de gravidade e fluidez.
(Foto: Steven Vance / Flickr)
De volta a Crosby, Hautala não está satisfeito. Ele não quer apenas expandir as trilhas, mas também que Crosby aumente sua estrutura e se torne para o ciclismo de montanha o equivalente a uma cidade de esqui. Ele quer que os ciclistas de montanha passem dias lá, não tardes. E ele quer criar uma comunidade tão legal que alguns desses turistas deixem de ser turistas e se mudem para lá.
O resto da cidade parece pensar assim também. Com a ajuda de um financiamento coletivo, um captador de fundos da comunidade acabou trazendo mais de US$ 1 milhão para ajudar a expandir as trilhas.
“Você não pode se contentar com o que tem. Isso é o mais importante” diz Hautala.
Texto publicado originalmente em https://www.outsideonline.com/2184491/how-mountain-biking-saving-small-town-usa
Tradução: Diego Magalhães