Brasileira que vai à Rio-16 precisa usar enxada e britadeira para treinar

Por Fábio Aleixo
originalmente publicado aqui

Raiza Goulão é a 11ª colocada do ranking mundial e será a única representante do Brasil entre as mulheres na prova de mountain bike nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. Mas para chegar a este feito, a atleta precisou batalhar bastante e fez da enxada e da britadeira suas companheiras nesta trajetória que começou em 2013.

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Natural da pequena cidade de Pirenópolis, no interior de Goiás, a ciclista de 25 anos construiu com os próprios braços os circuitos para poder treinar e perseguir o sonho de disputar uma Olimpíada. Isso porque em sua cidade natal, ou outro qualquer outro lugar do Brasil, é raro encontrar lugares adequados para a prática do mountain bike.

“Lá na minha cidade tem um morro, chamado Morro do Frota, que tem trilhas que o pessoal faz com moto, mas para fazer de bike é bem mais complicado Tem muita pedra pelo caminho, muita sujeira de galhos e folhas. Isso pode ser muito perigoso. Então, quando não estou competindo ou treinando na Europa, faço meus treinos lá. Mas para isso é preciso fazer toda a manutenção. Este ano, no dia 1º de janeiro, quando todo mundo estava comemorando e com a família, eu estava ali no morro junto com um amigo fazendo uma ponte no circuito”, contou Raiza.

“Tem também muitas vezes que vou sozinha mesmo. Pego a moto do meu pai, levo as pás, enxadas, facão e vou lá fazer limpeza, quebrar pedras. Me ajuda a relaxar. Chamo este lugar de santuário”, completou a ciclista, que neste momento se encontra na Europa para disputa de algumas etapas da Copa do Mundo e os últimos treinos no exterior antes dos Jogos.

Este Circuito no Morro do Frota não é o único no qual Raiza pratica quando está em Goiás. Também costuma pedalar na fazenda de uma amiga, em um circuito feito 100% por ela.

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“Esta fazenda fica quase do lado na minha casa. Lá tem uma reserva de mata, ao lado de um rio. É uma mata fechada e deu bastante trabalho para abrir uma trilha nela. Eu e meu pai fizemos um percurso de 3,5 km. Isso já tem quase uns dois anos. Infelizmente nunca tive apoio da Prefeitura para nada. Já a Confederação ainda está construindo um centro de treinamento em Curitiba”, disse Raiza, que foi uma das escolhidas para levar a tocha olímpica em Pirenópolis durante o revezamento.

Se virar como pode, aliás, sempre foi uma rotina na vida da ciclista. Quando mais nova, ela mesmo montava sua bicicleta. Viajava até a cidade vizinha de Anápolis para comprar as peças, uma vez que em Pirenópolis não havia nenhuma bicicletaria.

“Só queria ter uma bicicleta, nem pensava em fazer mountain bike nem nada. Ia de ônibus para Anápolis e cada vez eu voltava com uma peça. Era tudo muito simples”, relembrou Raiza, que se tornou atleta mesmo em 2010. Em pouco tempo conquistou dois títulos pan-americanos sub-23 e diversas competições nacionais.

Porém, foi só a partir do segundo semestre de 2012, após a Olimpíada de Londres que começou a vislumbrar a possibilidade de estar no Rio de Janeiro.

“Os três últimos anos foram quando dei uma virada na minha vida e passei a me dedicar exclusivamente a este objetivo”, disse Raiza que vê como remotas as chances de buscar uma medalha em agosto.

“Falar em medalha agora é muita ambição. Minha primeira meta que combinei com meu treinador é de buscar o top 15. Mas não quero focar em algum número para não botar pressão. Pensar em medalha é só lá para a Olimpíada de 2020”, disse a ciclista.

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