Fat Bikes – uma alternativa de baixo impacto

Fat bikes são bicicletas que foram concebidas inicialmente para pedalar na neve. Sua característica principal é a largura do pneu geralmente acima de 3,8 polegadas, chegando até 5 polegadas, ou seja, o dobro de uma Mountain Bike comum e até 5 vezes mais largo que um pneu de estrada. A pressão do ar nos pneus também é característica: é baixíssima, entre 5 e 10 psi.

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Rapidamente descobriu-se que o efeito da flutuação desse tipo de pneu viabilizava o acesso a lugares nunca antes pensados para bicicleta, como praias, pastos, banhados, vulcões e campos pedregosos. A existência de uma trilha deixou de ser requisito para uma experiência off-road. Também passaram a ser usadas nas trilhas de terra normais, apesar de mais lentas, com a justificativa de que causam menos impacto no solo.

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No Brasil logo ganharam finalidade, contudo ainda pouco conhecidas (2016). Não temos um inverno rigoroso, mas temos uma costa litorânea de 7 mil quilômetros de areia.

Outra aplicação popular lá fora e que começou aparecer no Brasil é o cicloturismo. Mesmo em estradas elas proporcionam vantagens, pois são verdadeiros caminhões e a pessoa pode levar bastante carga sem que as rodas sofram torção e os pneus furem com facilidade. Em Santa Catarina, dois casais já fizeram uma rota entre Imbituba e o Farol de Santa Marta em Laguna. No trajeto predominaram praias e a distância percorrida é mais curta que se fosse feita pela rodovia, com a vantagem de não haver o ruído do trânsito, apenas as ondas do mar e as gaivotas.

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Hoje, depois de 2 anos que apareceram no mercado nacional, existem em circulação em Florianópolis apenas 10 Fat Bikes. Foram adquiridas por ciclistas que querem, de vez em quando, complementar suas pedaladas corriqueiras em rodovias, ruas e trilhas. Com esse tipo de equipamento, algumas praias, como o Moçambique e o Campeche são verdadeiras ciclovias de areia. Nesse caso há um elemento adicional a ser checado antes da pedalada: o nível da maré. Caso o ciclista não atente a este detalhe, uma ida fácil pela areia firme pode virar um suplício no retorno pois, caso a maré esteja cheia, a pedalada vai ter que ser na areia fofa.

Além das praias, os fat bikers de Floripa tem explorado alguns caminhos de praia com superfície de areia (i.e. trilhas) que dão acesso às praias e também as Dunas da Joaquina e as Dunas dos Ingleses, as maiores da cidade. Neste ponto específico surgiram questionamentos sobre esta ser uma atividade com impacto ambiental.

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Na década de 80, as Dunas da Joaquina eram playground de buggies. Ainda hoje as Dunas dos Ingleses são explorados por quadriciclos motorizados e motos, o que desperta indignação em alguns ambientalistas. A figura abaixo das Dunas do Santinho ilustra bem a erosão causada ao longo dos anos por carros que acessam a praia. Parte da vegetação fixadora da duna foi perdida, e a geografia não é mais aquela moldada pelo vento. Isso sem falar perturbação sonora da fauna local.

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Degradação nas Dunas do Santinho

Fats Bikes seriam mais uma ameaça aos ambientes litorâneos? Abaixo listamos 5 pontos que desmistificam essa idéia.

1. Um nicho recreativo

Nas dunas de Florianópolis ciclistas são espécimes raríssimas no meio de uma quantidade significativa de turistas, sandboarders e corredores e caminhantes de dunas. Esta atividade é um nicho diminuto pelos seguintes motivos:

  • Por mais legal que possa parecer, pedalar na areia é difícil. A força exigida é muito maior que aquela no asfalto ou em uma trilha de terra. Pedalar 1 hora em uma duna quase equivale a subir uma serra pelo mesmo tempo. São poucos os ciclistas dispostos a se submeter à tal “punição.”
  • O equipamento é específico e o custo é alto. Uma fat bike é boa para areia e neve, no asfalto não é muito boa. A não ser que você seja um entusiasta hardcore ou fanático do ciclismo, mais vale comprar uma bicicleta normal.
  • Praias de Floripa infelizmente são de difícil acesso, haja vista o sério problema de mobilidade da cidade. Morar longe da praia reduz drasticamente o seu uso.

2. Baixo impacto

Naturalmente descobriu-se que depois de chuvas, quando a areia está mais firme, a pedalada é menos difícil. Por acaso também gera-se menos impacto na areia, o que é bem evidente. A areia simplesmente afunda menos por onde se passa.

Se comparada com motos, a bicicleta é silenciosa e o torque não permite cavar o solo. Se comparada com pedestres, o impacto de uma fat bike também é menor. Observe na figura abaixo a diferença entre pegadas humanas e o trilho de um par de pneus de 5 polegadas de largura.

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Pneus vs. Pegadas – Dunas da Joaca

O pedestre também faz algo que um ciclista dificilmente faz: subir dunas de forma direta, sem fazer curvas, causando desbarrancamento da areia. O fat biker, para que não tenha que desmontar da bicicleta, frequentemente faz voltas enormes para ir do ponto A ao ponto B, ao invés de tomar o caminho mais curto.

3. Auto-defesa das dunas e restingas

Milhões de anos de evolução foram necessários para que as plantas desenvolvessem mecanismos de defesa para não serem comidas ou danificadas por animais. Uma planta não pode gritar ou correr, mas pode ser cercada de espinhos ou conter substâncias venenosas.

Nas praias e dunas de Santa Catarina existe uma planta muito odiada pelos banhistas devido aos seus frutos espinhentos, a Acicarpha Spathulata, ou roseta, ou carrapicho-de-praia. Esses frutos grudam com os espinhos em pés descalços, sendo esta inclusive uma forma secundária bastante interessante de dispersão da planta.

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Acicarpha Spathulata (Roseta)

No banhista o efeito provocado é persuadí-lo a não pisotear o solo onde a planta reside. Ao fat biker que por acaso erre o caminho e venha a encostar na vegetação da praia ou duna, a mensagem é bem clara: se passar por cima, vai furar o pneu! A natureza é esperta.

4. Rotas existentes

Um dos principais lugares frequentados pelas Fat Bikes são as rotas já traçadas pelos pedestres ao longo dos anos para acessar as praias a partir das zonas residenciais. É bem perceptível a modificação do solo que os pedestres causaram nessas rotas. Contudo, aparentemente, esse impacto causado pelo pedestre não está evoluindo. Depois de uma fase de impacto inicial, as modificações no solo parecem ter se estabilizado.

5. Ciclistas off-road querem preservar a natureza

Um dos principais argumentos em favor do uso público de áreas naturais é educação ambiental. O cidadão irá defender aquilo que conhece e dá valor. Não há porque imaginar que seja diferente neste caso específico.

Historicamente o ciclismo off-road busca o contato com a natureza, de forma a admirá-la e preservá-la, longe das ruas e da cidade. As praias de Floripa são bastante frequentadas por banhistas, assim como certos pontos específicos das dunas são frequentadas por sandboarders e transeuntes. Contudo existem vastas áreas das dunas que parecem ser terra de ninguém. Em geral, encontra-se muito pouco lixo nessas áreas, e o pouco que os fat bikers encontram, estão recolhendo. Também estão atentos para fazer denúncias quando for o caso.

 

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